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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Embaixadores da língua portuguesa na era digital


O desenvolvimento das novas tecnologias tem contribuído para uma importante e acelerada difusão de meios e formas de comunicação. O manancial de informação disponibilizado na Internet, que cresce exponencialmente a cada segundo, é, pois, de uma riqueza inestimável, servindo tanto os propósitos de quem se dedica ao estudo das línguas, nas suas diversas vertentes, como os das organizações, que, através de técnicas robustas de análise e processamento de dados, procuram extrair informação relevante acerca dos produtos e serviços que comercializam ou representam.

Paradoxalmente, apesar de os falantes utilizarem cada vez mais a Internet, quer na pesquisa de informação quer na produção dos seus próprios conteúdos (de acordo com os dados recentemente divulgados pela União Internacional de Telecomunicações, o português é a quinta língua mais falada na Internet), as dificuldades observadas na produção e compreensão de enunciados orais e escritos por parte dos falantes é cada vez mais acentuada. De facto, embora usando a escrita como meio de comunicação privilegiado nas redes sociais, os utilizadores tendem a desviar-se da língua-padrão, adotando um estilo telegráfico e pouco cuidado nas suas mensagens. Trata-se de um registo muito próximo da oralidade (oralidade secundária, nas palavras de Walter J. Ong), onde o recurso a símbolos e a combinações gráficas para expressão de sentimentos e emoções, o uso de neologismos e de formas abreviadas não convencionadas, a proliferação de erros linguísticos (ortográficos, morfológicos e sintáticos) e a desvalorização das normas de escrita são práticas comuns, aceites pela comunidade virtual.

Será que a Internet e, em particular, o acesso fácil às novas tecnologias da comunicação, em vez de promoverem as línguas, estarão a contribuir para a sua mudança irreversível, para pior? Ou, pelo contrário, será que os falantes apenas encontraram outros códigos e regras de comunicação, próprios da era digital, sem comprometer os já previamente adquiridos? Ou, ainda noutra perspetiva, será que as redes sociais permitem apenas colocar em evidência problemas mais profundos, e que não são novos, ao nível da correta utilização da língua em geral?

De facto, a língua portuguesa continua ser, a par da matemática, uma das disciplinas nucleares em que os estudantes apresentam maiores dificuldades. Este problema está diretamente refletido nos resultados dos exames nacionais realizados nos últimos anos, em Portugal.

Face a esta realidade, diversas instituições de ensino superior, entre as quais a Universidade Europeia, têm vindo a integrar, nos planos de estudos das suas licenciaturas, unidades curriculares como Técnicas de Expressão Escrita, que visam aperfeiçoar as competências linguísticas e comunicacionais dos estudantes, imprescindíveis ao longo do seu percurso académico e profissional.

É legítimo questionar o que está errado no ensino/aprendizagem do português. As tentativas de resposta a esta questão têm gerado uma enorme controvérsia na opinião pública, envolvendo especialistas da língua e da literatura.

Sem querer entrar na dicotomia gramática/literatura, que me parece redutora, considero que o ensino da língua passa necessariamente por  desenvolver e aperfeiçoar, de forma sólida e bem estruturada, as competências linguísticas (lexicais, sintáticas, semânticas e discursivas) dos estudantes, de forma a que possam utilizá-las com correção e segurança na produção e interpretação de qualquer tipo de enunciado, tanto no âmbito académico como profissional ou pessoal. Contudo, como refere I. M. Duarte, “dotá-los dessas necessárias competências só ganha sentido político se os cidadãos aprenderem simultaneamente a gostar da língua e dos textos que com ela se produzem”.

A transmissão do gosto pela língua é, na minha opinião, um desafio (e uma obrigação) de todos os cidadãos com um papel ativo na sociedade da informação (escritores, jornalistas, políticos, etc.) e, em particular, dos professores de português. Atualmente, dispomos de uma multiplicidade de recursos e ferramentas que podemos (e devemos) explorar, no sentido de tornar o ensino das línguas mais apelativo e dinâmico. Pessoalmente, considero que o recurso às novas tecnologias pode constituir um aspeto motivador na aprendizagem de qualquer disciplina ou matéria, devidamente adaptadas aos diferentes níveis de ensino.

É com esta convicção que abordo as aulas de Técnicas de Expressão Escrita, que leciono, procurando estimular a capacidade crítica dos estudantes, recorrendo a oficinas de escrita dinâmicas, que envolvem a análise, discussão e correção de erros linguísticos frequentes, recolhidos a partir de diversos suportes, géneros e tipologias textuais. Procuro igualmente promover a leitura e a produção de diferentes tipos de textos, pondo em prática o jogo de pensamentos e palavras, com base nos conhecimentos e técnicas explorados ao longo das aulas.

Fico feliz quando os alunos são capazes de criar textos gramaticalmente corretos, coesos e bem estruturados, reconhecem e valorizam um bom texto (literário ou não literário), escrito por um autor conceituado, por um anónimo ou, idealmente, por si próprios. Isto é, no meu entender, o primeiro passo para a formação de bons alunos, profissionais promissores e excelentes embaixadores da nossa língua!

Paula Carvalho 
Docente da UC de Técnicas de Expressão Escrita 


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