Eu explico: o meu marido, aos 48 anos, tinha decidido voltar a estudar e estava já no fim da licenciatura no ISLA, o meu filho andava às voltas com o curso dele e eu ficava em casa, sozinha, à noite, a matutar nos problemas que tinha no trabalho porque as coisas não estavam famosas… Nessa altura já tinha muitos anos de casa e estava habituada a um “timoneiro” com pulso, que dirigia o barco com rumo certo, mas, infelizmente, a situação tinha mudado radicalmente. Sou calada mas sou rebelde, e não gosto de injustiças e não o escondia. Foi esta a minha contribuição para “entornar o caldo”…
E foi então que o desafio surgiu, levado pelo meu marido, na forma de uma brochura que continha informação sobre as licenciaturas do ISLA (atual Universidade Europeia). Pois porque não a licenciatura em Secretariado e Comunicação Empresarial?! Punha os tais neurónios a funcionar, conhecia pessoas novas, diferentes, adquiria mais conhecimentos sobre a atividade que (mais ou menos) tinha desenvolvido a vida toda e, principalmente, podia esquecer o que se passava no trabalho ao final do dia, quando fosse para as aulas.
Mas também surgiu o “e se eu não for capaz?”. Confesso que esta dúvida me ensombrou durante o primeiro semestre todo. Tinha perdido a confiança em mim mesma, punha em causa as minhas capacidades… e se eu fosse mesmo estúpida, e se afinal o “meu” diretor até tivesse razão? Será que ia conseguir fazer alguma coisa de jeito? E se falhasse, o que é que ia dizer?
Mas, felizmente, segui em frente com o projeto - organizámos as tarefas em casa e parti para a aventura.
Não posso dizer que foi fácil. No início, desgastada pelo ambiente na empresa, custava-me “desligar”; mas, no fim do primeiro semestre, apesar de não ter sequer ido fazer o exame de Economia porque tinha medo de falhar, as notas até não foram más e fiquei animada.
As horas a menos de sono sempre me afetaram. Saía de casa às sete e meia da manhã, só voltava a entrar às onze e meia, meia-noite, e tinha que organizar as coisas para o dia seguinte. Durante três anos, não tive praticamente fins de semana livres porque tinha que estudar e fazer trabalhos. Mas os semestres foram-se sucedendo uns aos outros e, no meio de trabalhos, de frequências e exames, de repente, tinha terminado… Afinal, tinha conseguido!
Hoje, passados três anos do início da aventura (da qual já só falta fazer uma unidade curricular opcional que decidi trocar à última da hora), acho que foi a melhor decisão que tomei. Não teria encontrado modo mais eficaz de readquirir a confiança que tinha perdido em mim mesma. Abri os meus horizontes, fiz novas amizades que vão ficar para sempre, adquiri e atualizei conhecimentos.
Ah! Já agora… no meio deste meu percurso, a empresa foi assimilada por outra, mudei de funções e tenho o secretariado da área comercial. E o “meu” antigo diretor não ficou na organização porque o “perfil não se adequava”.
Ana Cristina Baltazar (Finalista)