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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sozinhos numa sociedade global?

A forma como comunicamos e nos relacionamos com os outros e connosco, no século XXI, alterou-se tão radicalmente que, para as gerações nascidas nos idos anos 40 do século passado, mais parecemos alienígenas.

Este “admirável Mundo Novo” criou um paradoxo: por um lado, temos o mundo inteiro, e o que nele se passa, ao nosso alcance, por computador ou telemóvel, sempre e quando quisermos. Por outro, desligámos o silêncio. O silêncio da introspeção, da autoanálise, dos pensamentos que nos reflitam e não a uma qualquer corrente em voga. 

Desaprendemos o gosto de ter tempo para parar e ponderar nas opções que tomámos e porque é que as tomámos. Desabituámo-nos de estar com os amigos, à roda de um café. Passámos a ignorar os nossos mais velhos, cujas experiências nos parecem já nada ter a ver com os nossos novos estilos de vida, pese embora o facto de que aquilo que nos caracteriza, como seres humanos, ter permanecido igual ontem como hoje e amanhã. Esquecemo-nos de arranjar tempo para estar com as nossas crianças e de as ouvir, de lhes explicar o mundo, de as encaminhar e apoiar nas suas escolhas, de as ajudar a descobrir-se e a crescer, de as fazer sentirem-se felizes em partilhar.

E é sobre eles, os mais jovens ou muito jovens, os que apenas conhecem a atual realidade, que os ainda mal estudados efeitos duma tecnologia consumida em doses maciças, sem peso ou medida, começam a fazer-se sentir e que vão de disfunções de personalidade - comportamentos desajustados, demasiado passivos ou demasiado agressivos -, até ao pormenor, caricato, da desaprendisagem da escrita convencional por esta ser demasiado complexa ou trabalhosa para ser usada em texting. 

Seja qual for a razão por que enveredámos por este caminho – inércia ou preguiça ou o medo da intimidade, da entrega -, o resultado poderá bem ser o desagregar duma sociedade tecnologicamente avançada, democrática na partilha de informação, conteúdos e conhecimento como jamais existiu na história da humanidade, mas repleta de indivíduos isolados, socialmente desajustados e emocionalmente desapegados, os mais fracos e dependentes abandonados, núcleos familiares disfuncionais, os seus membros mais jovens a crescerem sem acompanhamento e sem orientação, uma classe política centrada em aparências e na satisfação de correntes de opinião, mais ou menos manipuláveis.

Esta é a visão catastrofista. Não tem de ser assim. Não deve ser assim.
 
Passo a passo, podemos reaprender a usar os nossos sentidos embotados. Reaprender que o som duma gargalhada espontânea tem um timbre contagiante; reaprender que olhar um rosto que nos olha ou uma voz que nos fala, sem filtros, é mais enriquecedor e empolgante que qualquer alternativa tecnológica, presente ou futura e, sobretudo, infinitamente mais recompensadora. 

Mariana Pereira (Estudante do 2.º ano)

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