De segunda a sexta-feira, o José, chamemos-lhe
assim, levanta-se todos os dias à mesma hora. Despede-se da mulher com o mesmo
beijo, apanha o mesmo transporte. Regressa ao final do dia, depois de um dia
inteiro fora de casa. A família está extremamente satisfeita porque, ao
contrário do que aconteceu durante anos, passou a chegar a horas de jantar com
eles. Sim, o José deixou de fazer horas extraordinárias. Talvez porque tenha
perdido o seu emprego. O José não o contou à família. Não teve coragem.
Perder o emprego é um evento traumático. Quem passa
por esta situação sente-se isolado, humilhado, culpado. Culpado porque foi (o)
escolhido. Humilhado porque o papel de contribuidor para o orçamento familiar
lhe foi revogado e perdeu a convicção de ser útil à Sociedade. Isolado porque,
apesar das percentagens e dos números esmagadores, é uma minoria sem voz e sem
peso político e social. Ainda que seja
um acontecimento cada vez mais recorrente e amplamente divulgado pelos media, não raramente o desempregado é
olhado como alguém que falhou, que não é suficientemente bom, um peso para o
Estado e para a Sociedade.
A percentagem de desempregados, de todas as idades,
em todos os ramos profissionais, nos mais variados níveis e hierarquias, prova,
à saciedade, que a imagem de desempregado-logo-incompetente é um erro colossal
de avaliação. A bolsa de conhecimentos, de saberes e de experiência detida nos
ficheiros dos Centros de Emprego é de tal forma valiosa que é quase uma atitude
criminosa o seu desaproveitamento. Mas é isso que acontece. Por isso, à
pergunta “E agora...?” têm aparecido múltiplas respostas de pessoas que
passam/passaram por este percalço, até por mais de uma vez, criando as suas
próprias oportunidades de emprego, isoladamente ou agrupadas em associações ou
empresas, provando que uma crise pode ser o despoletar da descoberta de
interesses e capacidades que de outra forma permaneceriam ocultas e/ou
desaproveitadas.
O sucesso de iniciativas como as atrás descritas
não é garantido e pode até nem ser permanente. O que é já em si uma vitória é a
recusa de se deixar ser reduzido àquele momento, àquela situação. Não podemos
perder de vista que todos nós
carregamos, connosco, um potencial de Capital Humano que fará toda a diferença
no que decidirmos fazer do nosso Presente e do nosso Futuro.
Mariana Pereira (Estudante do 2.º ano)
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